A Sociedade dos Jovens

A Sociedade dos Jovens

Escola às crianças, às crianças que querem escolas.

Muito se discute hoje a questão da diferenciação entre o ensino público e o ensino particular, inclusive, com determinação através de decretos, de reserva de vagas nas escolas superiores para os alunos que estudam em escolas públicas.

Muitas vezes essa linha de pensamento nos remete ao problema de discriminação ou racismo, relacionando o mesmo fato ocorrido na reserva de vagas nas escolas superiores aos candidatos negros.

Estão na realidade, tentando consertar a situação no topo das consequências. Um político apresentou esta semana na televisão seu ponto de vista, dizendo que estas supostas ajudas são meros deslizes, pois, reservar vagas para negros ou para alunos de escolas públicas não exige do estado nenhuma verba específica, e isso quer dizer que o estado não está então ajudando, apenas propiciando uma nova situação, que nem sempre, é considerada positiva pela maioria.

Pelas teorias apresentadas por políticos de maior envolvimento com a educação, o estado deveria impor sua participação na organização do ensino desde seu primeiro ano, quando a criança vai para a escola, propiciando-as não com sonhos de futuro, mas com uma realidade segura, com salas, professores, livros, escolas e condições de desenvolver seu aprendizado de forma completa. Em outras palavras, o que se propõe não é bem a quantidade de escolas, mas a qualidade de ensino nas escolas, através de um sistema novo que possa sanar e estruturar uma forma de ensino que dê resultados, mesmo para os alunos de escolas públicas, que são alunos carentes, de famílias e comunidades pobres, com deficiência em vários fatores, principalmente, com relação à educação familiar, educação comportamental. O sistema de que se adequar.

O caminho das crianças hoje no Brasil ainda tem em comum a escola pública, uma rede que abriga mais de 48,5 milhões de alunos, chegando a atender cerca de 87% das matrículas no ensino básico, que vai do infantil ao médio. Pelos dados e pesquisas apresentadas pela Secretaria de Estado da Educação, desde a década de 90 o país praticamente universalizou o ensino fundamental, sendo responsável pela manutenção de 97% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas.

Através de levantamentos e resultados de testes avaliativos aplicados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), ainda falta muito para se atingir as metas que fazem parte do Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado recentemente pelo presidente Lula, e a boa notícia é que a escola tem deixado de ser um problema só de pedagogos, professores e estudiosos no assunto, mas também se tornou uma grande preocupação para vários setores da sociedade. A sociedade começou a perceber que, somando escola ruim, alunos desinteressados e jovens fora das salas de aula, o resultado é um Brasil com falta de mão-de-obra qualificada e com cidadãos problemáticos para enfrentar as normas e regras impostas pela vida em comunidade.

Crianças... Coitadas...

Atualmente, quando se pensa em criação dos filhos, logo vem a preocupação com a educação, só que esta educação só se remete às conquistas de posições, lugares e situações financeiras. E esse é o grande problema de hoje, que envolve toda a sociedade e sua estrutura, indo desde o problema da fome, da delinquência infantil à velhice desamparada e frustrada, sem fomentação das necessidades básicas necessárias para uma vida digna.

Como nos países mais desenvolvidos, o que se projeta para um filho é que ele fique e permaneça o máximo de tempo possível na escola. Como já acontece hoje, aqui mesmo, as crianças vão para a escola de manhã (projeto escola integral) e voltam para casa somente à tarde, no final do dia, carregados de ansiedade e já desprovidos daquele sentimento de “esta é a minha casa”, ou, “esta é a minha família”. Se a criança vive e convive mais tempo na escola, automaticamente a escola será para ela uma referência mais significativa, mais importante, mais recheada de aventuras, de amizades, de acontecimentos e relacionamentos marcantes em sua vida. Ou seja, a família e sua casa se tornam na verdade, importantes, num segundo plano, pois já não têm essas crianças de hoje, amiguinhos e colegas da sua rua, ou se tem, só se encontram nos finais de semana, quando acontece.

Isso implica dizer que o sistema não está certo. É covardia exigir de uma criança que ela fique dez ou mais horas direto na escola, aguentando as famosas aulas em sala de aula ou dentro das bibliotecas, numa forma maçante e injusta. Injusta porque a criança, como criança, precisa brincar, ter seu espaço e tempo com a família, com seu lar, com sua rua. E o sistema nega isso a elas, propondo um programa pedagógico estressante e inadequado para seu desenvolvimento como criança.

É o sistema de governo atuante que promove essa situação, achando que as crianças gostam ou suportam essa pressão de ficarem presas na escola, separadas dos pais e parentes e ainda obrigadas a ficarem sentadas, quietinhas e comportadas numa sala por horas a fio.

É por isso que existem graves problemas no relacionamento aluno/escola, com proporções enormes de agressividade, intolerância e irresponsabilidade, provenientes desse mal estar causado pela situação forçada pelo sistema capitalista.

Coitadas das crianças. Já não têm mais hortas, não têm mais brincadeiras de rua, não têm mais contos de fadas, não têm mais nada. Mesmo os próprios pais, elas só têm num curto período do dia, porque existe ainda entre eles, a televisão: o pai chega o filho para lá para poder assistir o jornal, enquanto a mãe se concentra na novela. E o filho... Coitado, trabalha muito mais que os adultos, pois, ter que ir para a aula de manhã e só voltar de tarde, para eles, é preciso um enorme esforço...

É o resultado dos “limites” impostos por organizações que julgam, burocraticamente, quais são as necessidades e “limites” das crianças. E a educação, propriamente dita, fica no ar. Nem na escola nem no lar, fica ao léu.

Os primeiros passos

O homem, como qualquer outro animal, nasce e aprende a caminhar, dando seus primeiros passos com dificuldades, porém, contando com o apoio, com o acompanhamento dos pais, até que consiga se equilibrar por si só.

A criança começa a andar sobre os dois pés porque lhe é ensinado e porque se espelha em seu semelhante, se posicionando de forma ereta, e não de quatro como os cães ou os macacos. Da mesma forma acontece esse processo em tudo na vida de uma criança, que vai aos poucos aprendendo mais e copiando as ações na fala, no comportamento, na forma de raciocinar e concluir. Isso implica dizer que na questão que se refere ao aprendizado cognitivo (inteligência), se verifica o mesmo processo. A criança aprende a aprender com os adultos, com os pais, enfim, com a família, absorvendo e captando cada passo do processo que lhe é exposto e apresentado para que se desenvolva.

São os primeiros passos o ponto crítico no desenvolver de uma criança, que assimilará corretamente ou não um padrão de vida, valendo isso também, para seus primeiros passos na escola, na vida de educando. Será no primeiro ano de escola que irá optar por um modo de conduta, de comportamento, e de como prover retorno de forma correta às atividades coletivas e individuais.

Se houver um procedimento organizacional competente durante os primeiros passos da criança na escola, com certeza sua vida como estudante apresentará resultados melhores com relação ao aproveitamento. Tanto na questão de comportamento, posicionamento e respeito com os outros, principalmente com os professores e com ele próprio, sabedor de que toda atividade escolar irá reverter em benefício a ele mesmo. É um dos pontos mais importantes na conscientização de uma criança, de um estudante: ter ciência da importância do estudo, e, principalmente, ter o interesse em estudar. Esse “interesse” por parte da criança é fundamental para que tenha sucesso. Sem esse interesse ela vai à aula e não sabe o porquê, e acaba indo à aula somente por ir, para ficar divagando e atento somente às coisas vãs e inúteis.

O ideal é que esse processo da criança inferir, aprender o quanto é importante o estudo em sua vida, seja trabalhado nos seus primeiros passos, isto porque, depois de já ter aprendido o errado, fica mais difícil consertar. Há de se convir que a criança deve ser preparada para respeitar na escola, o espaço dos outros, a hierarquia existente, as normas e não considerar a escola como um espaço onde pode fazer tudo o que quiser, como quiser, do jeito que quiser. Infelizmente essa é a realidade de hoje, pois as crianças vão para a escola para disputarem espaço e domínio das situações, sem respeitarem qualquer tipo de limite que haja para organizar aquela comunidade. A criança usa de todos artifícios e abusa de todos limites para apenas se sentir bem, ou para se sentir dominadora, dona da situação.

Com isso, as professoras não conseguem domínio da situação, não conseguem repassar ensinamentos pedagógicos às crianças e ainda têm que tolerar o abuso e falta de respeito por parte de crianças mal instruídas, mal educadas. E o pior... isso tem que ser considerado dentro do contexto como comportamento e situação “normal”, pois se realmente o é.

Sonhos e Desejos

Sonhos não são apenas para crianças. Adultos e idosos também sonham. Usam da metáfora de sonhar e esperam a concretização de uma vontade, que é chamada de sonho, por ser julgado, muitas vezes, impossível. Muitos conseguem concretizar essas vontades dentro do próprio sonho. Sonhar com a concretização de alguma coisa não é um sonho. Sonho é quando se sente participar de alguma situação, num sonho que se lembra quando se acorda. Sonhar com a concretização de uma coisa não é sonho, é um “ensejo”, uma vontade de que um desejo se realize.

A criança nasce, cresce e mesmo adulta avalia alguns detalhes de sua vida. Começa a enumerar seus sonhos impossíveis ou inalcançáveis, e, se tratando de uma pessoa simples do interior, como do interior de Minas, a primeira coisa que vem à tona é o mar, que mesmo não estando tão longe só é conhecido pelas descrições de quem o conhece e pelas vislumbrantes aparições em imagens fotográficas e filmadas. Ir a uma praia e conhecer o mar de perto é sonho de todos.

Ainda há um desejo que pode ser dos mais difíceis: conhecer a neve, pisar e sentir a neve cair sobre sua cabeça e imaginar como é sentir o seu frio congelador. Através de descrições contadas já é mais difícil conhecer detalhes sobre a neve, ainda mais porque dentre as pessoas interioranas quase nenhuma teve o privilégio e oportunidade de ir até as terras onde ocorrem tal fenômeno. Então sobre a neve, conhece-se apenas mesmo por fotos e filmes, quando se desperta a curiosidade de como se viver num lugar desses.

Em questão de curiosidade, tem-se a mais incomodante, que é o sonho de andar de avião. Isso porque em qualquer lugar que se more pode ser visto um avião passando no céu, nas suas rotas direcionadas. É um sonho que na realidade está bem perto e próximo de ser realizado, mas, a grande maioria não tem acesso e continua sonhando, criando situações imaginativas com base no que já conhecem pelos filmes e reportagens na televisão.

Mesmo não podendo se concretizar os desejos, se sonha com eles, mesmo estando acordado. Porém para um ensejo há um limite, enquanto que, para os verdadeiros sonhos, o limite é a imaginação, que, de onde vem, não se sabe, mas existe.