Somente
pela janela, ou numa rápida abertura da porta da sala, vê-se algum movimento
extra nas ruas, e, olhando de lá e de cá, procura-se ver se existe mais algum
tipo de alteração da paisagem estática e imóvel, procurando enxergar alguma
pessoa atrevida passando com rumos obscuros, já que são poucos os locais onde
se pode ir. Ao longe, no final do alcance da vista e antes da virada da rua,
ainda assim, numa vasta e ampla passarela,
vislumbra a paradeza e silenciosa maratona da quarentena imposta, talvez pela
natureza, ou talvez, pela natureza curiosa e descuidada dos homens, ou ainda,
simplificando, pela incontrolável infecção por um vírus quase transparente e
inútil à vista nua, mas que impõe sem sutileza alguma, necessidades de controle
e descontrole na luta contra a morte.
Num tempo de céu límpido, outono, onde
se vê quase que somente o sol, e a lua que ainda trafega sonolentamente a meio
a esparsas e frágeis nuvens quase brancas, é o que se pode ver quando se alça os olhares para cima, em busca
talvez, de um sinal divino que possa chuviscar ideias brilhantes aos cientistas
que procuram uma fórmula mágica para estancar e minimizar a produção de tantas
tumbas repentinas e ataúdes sem nenhuma lápide com dizeres de paixão e
compaixão.
Até
a alegria das crianças aparece menor e contida a meio tanto sofrimento existente
nos olhares dos adultos que compreendem a realidade sem a aceitar e que
imploram aos Deuses e anjos para distrair a desgraça em outros lares, que não os
seus, afim de que não morram precocemente. Até nas falas e sorrisos vê-se a
imposição do medo em se contrair tal mal que se alastra como alimento saudável,
alimentando famintos pela vida, mas que, sorrateiramente, alimenta a derradeira
morte insana de se perder o que não se precisa ganhar... o ar.
E,
ao olhar ao seu redor, pior, o temor de ver seu espaço tido como moradia,
sujeito a hospedar visita nunca ilustre e perigosa de um demoníaco estranho que
traz junto sinais de separação e condenação à morte. Então, o canto da casa mais
procurado e seguro é onde se encontram os quadros e imagens dos santos que representam
seus “portos seguros”, de onde se espera obter um rumo certo para se desviar
dessa corrente do mau que se instaurou nos ventos dessa nova época.
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