A doença do ensino e o remédio...
O professor da escola pública vive uma tremenda intranquilidade por conhecer o problema social existente, que prejudica de forma drástica o ensino e aprendizagem, e que sobressai nas entrelinhas citadas por políticos e demagogos. Não é só o baixo poder de renda da população que desmorona toda tentativa de se conseguir uma sociedade melhor. Temos o problema enfrentado pelo professor que encara os baixos salários e é obrigado a fazer o antipedagógico trabalho extra, juntamente com as tarefas domésticas executadas por muitos, principalmente as mulheres, que exercem ainda os mais diversos tipos de “bicos” com o objetivo de complementar sua renda.
Juntando-se aos problemas carregados pelos alunos que levam para as salas de aula anomalias de comportamento, o professor tem como agravante a excessiva carga horária, pois o trabalho do professor não se resume na sala de aula. Em casa, ele tem a tarefa de corrigir os deveres, os testes e provas, bem como realizar o planejamento de suas aulas, elaboração de testes e provas, além de ter que se manter atualizado com os estudos e assuntos do cotidiano, que certamente precisará repassar aos alunos.
Com isso a categoria dos professores está decadente em função da desvalorização presente e evidente em quase todos governos, e, junto das doenças do corpo, vê surgir também as doenças emocionais, em consequência do descaso com a profissão. Em contrapartida, outro setor da sociedade que deveria promover a importância do professor, o crucifica. São os familiares que, em toda e qualquer situação, dão prioridade e maior valor ao posicionamento dos alunos, logicamente, por serem seus filhos, sem perceberem que acentuam ainda mais os problemas do professor, que mesmo estando preparado, ainda assim sofre os abalos emocionais decorrentes da impossibilidade de solucionar os casos que envolvem seus alunos.
O professor sabe onde estão os problemas e de onde surgem. Justamente na falta de condições de trabalho, no empobrecimento geral da população que gera alunos problemáticos, vítimas do desajuste familiar, do meio social violento e das carências que as situações propiciam, que sem dúvida vêm prejudicar a atuação do professor em sala de aula, impedindo melhores resultados.
No extremo das concepções e formulação de solução, somente uma saída viável capaz de refazer a contextualização de uma sala de aula em condições de se trabalhar com eficácia: remanejar das salas normais os alunos que definitivamente não têm condições de desenvolvimento e convivência num ambiente escolar, onde se deve respirar conhecimento, cortesia, caráter, respeito e visualização de futuro. Esses alunos que apresentam comportamento incompatível com a normalidade, devem ser remanejados das classes normais, para classes especiais, onde teriam um ensino de forma também especial, disciplinar e pedagógico, com professores também especiais, preparados especificamente para esse tipo de situação.
O estado gasta um absurdo para manter os remanejados da sociedade em prisões, casas de detenção e outras organizações corretivas. Então pode o estado gastar também com os alunos remanejados das salas normais, para salas especiais, favorecendo sua recuperação para a cidadania. Todos sabemos que a sociedade remaneja seus cidadãos problemáticos, que os grupos sociais, as associações, os grupos partidários e as próprias famílias também remanejam os indivíduos que apresentam problemas comportamentais. Há remanejamentos sim, em todos setores da sociedade, menos nas escolas, onde o professor é obrigado a se deparar com elementos que o ameaçam, que o tratam com o maior desprezo, que vão à escola para tudo, menos para estudar e respeitar o professor, prejudicando diretamente os colegas.
Para o setor educacional do estado que prega veementemente a “inclusão”, visualizamos esta opção, como única, para se conseguir vencer essa barreira, e, pelo menos, amenizar o problema, para que o professor consiga dar uma boa aula para os alunos normais e uma aula especial para os alunos anti-sociais, para que esses possam, com maior êxito, se prepararem e sentirem inclusos na sociedade.
Portanto, um salário decente, certamente, não seria a solução, seria apenas uma gratificação pelos tantos problemas que os professores têm. A solução está em propiciar ao professor, condições de ministrar suas aulas como “educador”, e não como “dominador”, como está sendo “obrigado” a se posicionar hoje. (Quem não concordar com essa denominação que vá presenciar uma aula pessoalmente). Muitos benefícios advirão da aplicação de um projeto assim. Piaget e Freire com certeza não previam esse tipo de problema em suas práticas pedagógicas teóricas com projeção para nosso tempo.
Bernardo Eustáchio Viana da Silva